domingo, 8 de maio de 2011

2as da manhã

Pergunto-me por que será que me preocupo em escrever.
Pergunto-me realmente por que me preocupo de todo.
E por quê em bom (nem por isso) português? Talvez por que parece mais honesto.
As outras línguas dão um ar de facilidade, um ar de carta atrasada, daquelas que se mandam às pessoas da mesma cidade só para não lhas entregarmos na mão.

Nem sei o que dizer. Pensei num objecto, certamente preciso de um objecto.
Há pouco pensava num quadro negro, uma tela toda pintada com o mais escuro pigmento. Mas depois pensei, mas que raio?
E se for um elástico? Escrever para um elástico. Um elástico de qualquer cor. Será que é como a terapia? Estarei a tentar auto-terapiar-me? No sentido mais macarrónico da palavra?
Pois bem,

Querido Elástico,
Há muito tempo que não falo contigo, se é que alguma vez falei contigo elástico. Pareces-me agora como tantos outros elásticos que me foram prendendo o cabelo. Era bem fixe, quando eu ia à praia e não precisava de me preocupar com o sal no cabelo, quando ia para a dança e me ajudavas a afastar o calor. Ou até quando me armava em preguiçosa e simplesmente atava o cabelo por não querer ter de lidar com cabelo em frente dos olhos. Já vistes quantas utilidades um elástico pode ter?!
E realmente pergunto-me acerca do teu ser, senhor elástico, o que terás para além dos fios de ... algodão? que cobrem a tua elasticidade? Será que sequer tens elasticidade!? Se calhar tens um buraco negro protegido por um incrível campo de forças!
Bem não interessa muito pois não? Ora poças elástico, e eu que pensava que irias mesmo ser o elástico para mim! Nem me lembro se te comprei, gamei ou encontrei no meio da rua, mas poças, parecias mesmo o meu elástico.
Não faz mal. És só mais um elástico, um elástico único, que para sempre me lembrarei como conseguiste não me emaranhar o cabelo, mas que acabaste por o partir como tantos outros elásticos. Se calhar só ficaste velho, sei lá. Um fio a menos, outro rasgado e prontos, demasiada força e lá se parte o cabelo.
Tinha mesmo esperança que só desta vez conseguisse um elástico que não me partisse o cabelo.
Ora bolas elástico. Que faço agora? Finjo que não me partiste o cabelo? Acho que simplesmente vou usá-lo solto e talvez por magia a fada madrinha do Pinóquio também te de boca para pedires desculpa pelo meu cabelo! Agora hei-de ter de o cortar, ora muito obrigada, foste tão prestável quanto os outros da gaveta.
Infelizmente nunca dos meus elásticos me pediu desculpa por partir o cabelo, acho que agora não vai ser muito diferente. E de qualquer modo ou acabas no lixo ou na gaveta, à espera que um dia me peças desculpa ou que o meu cabelo seja brilhante o suficiente para que não o partas.
Não te preocupes que os outros me chamem de maluquinha, insana, incapacitada por pensar que realmente poderei falar com um elástico. Eu nunca dei muita atenção ao que os outros me chamem, independentemente dos meus elásticos.
De qualquer forma, se a fada madrinha não for bondosa o suficiente para te dar uma boca talvez te dê olhos e te ensine a ler. Não sei o que seria nem melhor nem pior. Neste momento não sei nada senhor elástico.
Talvez saiba que sou estúpida o suficiente para perder tempo a escrever uma carta para um elástico.
Mas, ora bolas elástico, pensei mesmo que serias o meu elástico preferido.

E que tenhas uma boa noite! Não te estiques muito e vê se paras de partir cabelos, a sério, é mesmo irritante. Muita saúde senhor elástico, vamos ver se para onde vais.