Uma silva me prendeu,
uma silva pequenina.
Não há coisa que mais prenda
que os olhos duma menina.
E encontrando o total do poema deparei-me com pequenos tesouros nacionais que já ninguém conhece:
CHULA DA MAIA
Eu hei-de te amar, amar,
hei-de te querer, querer.
Hei-de te tirar de casa
sem teu pai nem mãe saber.
Silva verde não me prendas,
olha que me não seguras;
olha que tenho quebrado
outras algemas mais duras.
Uma silva me prendeu,
uma silva pequenina.
Não há coisa que mais prenda
que os olhos duma menina.
A silva que me prendeu
arrebentou no valado;
nunca a silva me prendeu
com tão forte cadeado.
Há silvas que dão amoras,
há outras que não as dão;
há amores que são firmes,
há outros o não são.
Silva verde picosinha
ao arcipreste se enleia;
meu amor se me prenderes,
deixa-me larga a cadeia.
Cheguei à borda do rio,
silva verde é meu encosto.
Que importa que o mundo fale
se o meu amor é do meu gosto ?
Salsa verde combatida
ao pé do manjericão;
bem podemos ser amantes,
mas sempre dizer que não.
A salsa do meu quintal
arrebenta pelo pé
assim arrebenta a boca
a quem diz o que não é.
Entre pedras e pedrinhas
nascem raminhos de salsa;
pega-te à feia que é firme
deixa a bonita que é falsa.
A salsa que está no rio
de verde se está revendo;
eu como firme te adoro,
tu falsa me estás vendendo.
Debaixo da oliveira,
menina, é que é o amar;
tem a folha miudinha,
não entra lá o luar.
Se a oliveira falasse
ela diria o que viu:
debaixo da sua sombra,
dois amantes encobriu.
Daquela janela alta
me atiraram um limão.
A casca me deu no peito,
o sumo no coração.
Deitei um limão correndo
à tua porta parou.
Quando um limão tem amores,
que fará quem o deitou ?
Alecrim à borda d'água
de longe faz aparência;
muitos amores se perdem
pela pouca inteligência.
Oh meu cravo almirante,
onde é que perdeste o cheiro ?
Perdi-o na tua cama
na renda do travesseiro.
Corações que estão unidos
não temem a dura sorte;
suceda o que suceder
são fiéis até à morte.
Se pensas que por ti morro
enganas teu coração.
Olha que nunca gostei
da fruta que cai no chão.
Caneiro do rio d'Ave
deixa-me ver os peixinhos.
Quem namora às escondidas
dá abraços e beijinhos.